22 de nov de 2016
Edglei Sales, coordenador de Tecnologia da Informação da Fecomércio MG
O setor de Tecnologia da Informação (TI) deverá crescer a uma taxa anual de 3% até 2019, de acordo com um estudo do Internacional Data Corporation (IDC). No entanto, o mercado brasileiro, que em 2015 teve um déficit de mais de 195,3 mil profissionais da área, ainda apresentará uma lacuna de 161,5 mil pessoas daqui a seis anos, conforme a mesma pesquisa. É a maior defasagem em toda a América Latina. Embora o país atravesse um aumento da taxa de desemprego global, existe um grande desafio para preenchimento dessas vagas: o nível de capacitação dos profissionais da área.
Tanto os segmentos de infraestrutura tecnológica quanto de desenvolvimento de softwares não sentiram a crise econômica. Além de ampliarem investimentos, têm demandado um grande volume de mão de obra, mas sem sucesso nas contratações. É verdade que o número de formandos, nos últimos anos, foi inferior à procura. Porém, a maior dificuldade é justamente encontrar pessoas que entendam as tecnologias emergentes e que sejam capazes de se adequar às necessidades das empresas.
De um modo geral, elas saem das universidades e até mesmo dos cursos técnicos com um bom conhecimento acadêmico, teórico, porém com pouquíssima ou nenhuma vivência prática do mercado. É comum faltarem conhecimentos básicos do setor, com destaque para rede essencial, segurança cibernética, telefonia IP, redes sem fio, comunicações unificadas, vídeo, computação em nuvem, mobilidade, Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), data center e virtualização, conforme o levantamento do IDC.
Além disso, muitos trabalhadores que ingressam na profissão ainda apresentam carência de habilidades que ultrapassam a técnica, como proficiência em inglês, trabalho em equipe e relacionamento com o cliente, resolução de problemas, criatividade e atitude empreendedora. Se a necessidade da organização for para o gerenciamento de projetos, a seleção do profissional fica ainda mais complicada. Encontrar um analista de negócios, aquele que conhece de TI, princípios básicos de gestão e negócios, é quase impossível.
Nesse cenário, muitas empresas têm optado pela capacitação interna dos seus colaboradores e formação de estagiários e jovens aprendizes. Estratégia que não é a ideal, tendo em vista a rotatividade do mercado. É fundamental, portanto, que os próprios trabalhadores invistam em seus currículos, aprimorando sua qualificação e suas certificações internacionais, ponto que também é muito valorizado. Além disso, a tecnologia é uma disciplina mutante, o que exige atualização constante para que se consiga acompanhar o ritmo das novidades.
Essencial também é que as iniciativas públicas e privadas se mobilizem para solucionar esse problema da falta de mão de obra capacitada para um setor que, de acordo com estudo da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), em parceria com o IDC, apresentou um aumento dos investimentos da ordem de 9,2% em 2015, sobre o ano anterior, somente em hardware, software e serviços no Brasil. O indicador mundial foi de 5,6%. O governo e as próprias escolas com cursos técnicos e graduação em TI precisam enfrentar o desafio de aproximar os alunos do mundo corporativo e fomentar a criação de mais startups. E o setor, por sua vez, precisa se organizar melhor e fiscalizar a educação tecnológica, por exemplo, implantando conselhos nos moldes dos que existem nas áreas médicas, de engenharia ou direito.