23 de mar de 2015
Artigo do economista da Fecomércio MG, Caio Gonçalves, publicado no Estado de Minas.
A falta de planejamento dos governos e da sociedade em geral é o que está por trás da atual crise hídrica e suas implicações no fornecimento de energia elétrica. Um dos setores que pode ter as atividades limitadas caso as previsões de corte e/ou racionamento se concretizem é o de comércio de bens, serviços e turismo de Minas Gerais. Fato que pode atrapalhar – ainda mais – um ano que será de ajustes para a economia brasileira.
O problema da estiagem no Brasil não é um fato novo. Desde setembro de 2014, o risco já havia sido anunciado pelo relatório Serviço Geológico do Brasil (CPRM) juntamente com a Agência Nacional de Águas (ANA), sendo que os dados da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) de dois anos atrás já indicavam que a cada ano os reservatórios sofriam reduções, e que todo o volume consumido não era reposto posteriormente.
Dessa forma, a falta de preparação para esse tipo de situação gerou a posição atual em que existe uma dependência substancial das condições climáticas, ao ponto de que, se não chover, não teremos água para abastecimento da população. Em Minas, existe a possibilidade de se iniciar um racionamento em julho deste ano caso a situação não melhore. Assim, é importante a clareza das medidas que serão tomadas e a divulgação transparente do problema. A medida mais plausível em curtíssimo prazo é a conscientização da população e redução voluntária do consumo de água. Os cortes de fornecimentos também se tornarão uma opção, porém se isso for necessário, é importante que exista certa agilidade em realizá-la para que os cortes não sejam mais duros em um futuro próximo e o problema de geração de energia elétrica não se intensifique.
Campanhas de conscientização e sobretaxas para aqueles que aumentarem o consumo estão sendo discutidas em Minas e essa aparenta ser a alternativa mais viável no momento. Aliado a isso, existe a questão do desperdício no próprio processo de distribuição.
Em 2001, passamos por um racionamento de energia e, na época, o consumidor aprendeu a adotar hábitos mais conscientes. Porém, desde aquele ano não só o consumo dos brasileiros cresceu bastante, mas também sua cesta de consumo inclui cada vez mais produtos que necessitam de energia elétrica.
Apesar de medidas relacionadas à sustentabilidade para economizar água e energia elétrica existirem, nem todos os estabelecimentos mineiros estão preparados para uma possível diminuição de água e luz, principalmente entre as micro e pequenas empresas, que serão mais afetadas nessa crise. Bares, restaurantes e grande parte dos serviços necessitam de água em suas atividades diárias, sem falar num possível racionamento de energia elétrica, que impactaria a todos. Chegar ao ponto de fechar um estabelecimento por falta de energia é uma situação alarmante em um ano que já será difícil para todas as atividades econômicas.
Além dos efeitos diretos da crise hídrica sobre o comércio, serviços e turismo, existem os efeitos indiretos que virão de outras atividades como a indústria (irrigação), que irão refletir na produção dos artigos comercializados e podem atrasar ainda mais a retomada do crescimento.