17 de ago de 2017
A revolução tecnológica e suas transformações sociais são fenômenos irreversíveis para a economia. Para que as empresas do segmento de turismo – como as de transporte, alimentação e agências de viagem – consigam acompanhá-la de forma sustentável, é preciso garantir espaço para a inovação e promover um ambiente regulatório equilibrado. As conclusões são do seminário Impactos da Economia Colaborativa, realizado pelo Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), no dia 7 de agosto, no Rio de Janeiro.
Na palestra de abertura do evento, a professora especializada em Redes Digitais pela USP Dora Kaufman foi taxativa ao afirmar que os aplicativos têm mudado a estrutura do setor hoteleiro até nas grandes capitais. “O impacto é enorme para os hotéis – já que plataformas como Airbnb não pagam impostos – e também para as cidades que sofrem gentrificação e passam a ter áreas residenciais destinadas ao turismo”, afirmou. Ao lembrar que cerca de 70% do faturamento do Airbnb provém de imóveis vazios administrados por corretores, a professora defendeu que a plataforma não seja considerada como “economia compartilhada”. “Tanto o Airbnb quanto o Uber já são modelos de negócio, mas qual é a relação deles com a economia colaborativa? Eles contam com avaliações que constroem ou destroem a reputação do produto que vendem”, afirmou Dora.
Na mesma linha, o presidente do Cetur/CNC, Alexandre Sampaio, reforçou a necessidade de regulamentação dessas plataformas. “O que garante uma concorrência equilibrada é a isonomia de condições entre todos do setor de hospedagem. Por isso, é indispensável regulamentar esses serviços”, afirmou.
Novas experiências para novas gerações
Apesar de grandes empresas e plataformas na área de transportes já dominarem o cenário nacional, o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Jorge Pontual, vê a tecnologia como aliada do desenvolvimento do setor. Para ele, o aluguel de automóveis é uma oportunidade única de receita e exploração da cidade. “Temos que entender a melhor forma de customização de serviços para os nossos clientes, utilizar a tecnologia para conversar com a nova geração e oferecer a ela a mais agradável experiência na hora de alugar um automóvel”, afirma.
Para o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Edmar Bull, é preciso que o profissional se capacite para lidar com os desafios da inovação, pois não há mais como dissociar as viagens do meio digital.
Possíveis soluções
A empreendedora social da OuiShare, Manuela Yamada, acredita que unir a economia colaborativa à inovação social ajudará a combater a crise econômica e promover a inclusão. Manuela destacou que as inovações devem somar e não desequilibrar o mercado. “A tecnologia está aumentando a desigualdade social no Brasil e no mundo. As empresas precisam entender que o lucro não é só financeiro, mas também social.”
Os efeitos da tecnologia no mercado de trabalho foram abordados pelo jornalista e colunista de tecnologia Pedro Doria, que defendeu a diminuição da carga horária como saída para a redução de vagas de emprego em função de tecnologias como a inteligência artificial. “A gente passará por uma fase de transição. Nos próximos dez anos, muitos com 50 anos irão ver sua profissão extinta e não terão tempo de se recolocar no mercado. Acredito que a redução da carga de trabalho e a implementação de um sistema de renda mínima podem ajudar no combate às questões sociais geradas pela tecnologia”, complementou.
O seminário Impactos da Economia Colaborativa: Alimentação, Transporte e Agências de Viagem é o terceiro de uma série de cinco eventos, denominada Turismo: Cenários em Debate, que o Cetur/CNC realiza em 2017. O objetivo final é elaborar um documento com as conclusões e sugestões de políticas públicas.